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História de fundação

De destino turístico a hub digital: startup de Alagoas coloca região no mapa da inovação

Três homens conversando, sentados em pedras, na praia. 00:00

"Apesar de todas as dificuldades e estereótipos no nordeste, a comunidade digital empreendedora existe e é a mesma em todos os lugares", diz Paulo Tenório, da Trakto.

Foi na faculdade de Administração, observando a dificuldade dos colegas em apresentarem seus trabalhos, que Paulo Tenório identificou uma ideia que, em 2013 se tornaria a Trakto. Usando seus conhecimentos de programação e motion design - que aprendeu por conta própria durante um período de recuperação de saúde - chamou atenção em sala de aula por criar apresentações em formato inovador, animadas em flash. A partir daí muitos alunos pediram para Paulo desenvolver conteúdos parecidos. Começou a fazer freelas na faculdade, o que lhe trouxe experiência na área de animação e rendeu oportunidades de trabalho até mesmo fora do Brasil.

Após alguns anos, essa vivência fora do País o fez perceber que as pessoas tinham dificuldade de se vender, de mostrar seu trabalho e de se precificar. Então, em 2013 teve a ideia de criar um aplicativo que ajudasse profissionais a apresentarem seus projetos. Encontrou em Jorge Henrique o sócio que o ajudou com a programação, e juntos criaram a Trakto, uma plataforma de criação e organização de materiais de marketing. Participou da primeira turma do Programa de Residência do Google for Startups, em São Paulo, e voltou a Alagoas com o objetivo de ampliar o empreendedorismo digital na região, com foco no impacto social.

Fazendo o sotaque ser levado a sério

A primeira turma do Programa de Residência do Google for Startups era formada em São Paulo, em 2016, e Paulo e Jorge foram selecionados para fazer parte dela, recebendo apoio e mentoria durante seis meses. Paulo conta que até então a Trakto tinha um grande problema de credibilidade, por não estar localizada no eixo sul-sudeste do Brasil.

"A questão da representatividade sempre foi importante, por sermos uma startup nordestina. O sotaque e a localização não eram levados a sério por investidores. A chancela do Google foi muito importante para nós: abriu portas não só no Brasil, mas no exterior também. Dizer que era residente abria portas", afirma Paulo.

O retorno com o programa chegou logo após o fim da participação como residentes: em 2017 a Trakto faturou o seu primeiro milhão em receita, triplicou o número de assinantes e quadruplicou o quadro de funcionários.

Mas, para além do retorno financeiro, Paulo também queria continuar fomentando o ecossistema local. E a partir de uma ideia que teve durante conversas no Google Campus, resolveu criar o Trakto Marketing Show, evento de empreendedorismo e marketing que acabou se tornando um dos maiores do gênero na região Nordeste.

Para Paulo, o mercado de Alagoas ainda é bastante retraído e é preciso levar conhecimento para perto da comunidade e descentralizar o pensamento de que eventos desse porte e oportunidades só acontecem em grandes centros. "Apesar de todas as dificuldades e estereótipos no nordeste, a comunidade digital empreendedora existe e é a mesma em todos os lugares".

Em 2019, já na sua terceira edição, o evento teve mais de 3 mil participantes, 40% deles de fora de Alagoas. Além disso, também converte novos clientes para a Trakto. Nos seis meses posteriores ao Marketing Show, a startup percebeu uma demanda cerca de 30 - 40% maior. "Cada evento é uma nova startup”, diz Paulo.

Retribuindo com conhecimento

Não são só os negócios que ajudam a alimentar o ecossistema local. Paulo também quer levar oportunidades profissionais e com impacto social para a região, uma forma de retribuir por tudo que aprendeu e conquistou por meio do programa Google for Startups.

Foi na edição de 2018 do Marketing Show que Paulo e seu sócio Jorge conheceram o Renato, um jovem morador de uma comunidade periférica de Maceió, capital de Alagoas, e que vive da pesca do Sururu. Ele tinha o sonho de ser programador, mas faltava oportunidade e orientação para alcançar seu objetivo.

Os sócios perceberam que uma startup pode tirar uma pessoa de uma situação de extremo risco e causar impacto real em uma comunidade com tamanha carência. Apostaram no potencial e dedicação de Renato, transmitindo seus conhecimentos na área e o contratando para trabalhar na Trakto.

"O Renato não está sendo treinado para ser empregado da Trakto. Ele está sendo treinado como programador, para que possa desenvolver seu próprio negócio", diz Paulo. O jovem, inclusive, já desenvolve seu primeiro aplicativo, o Zap do Sururu, para ajudar na intermediação da comercialização do sururu em sua região. "Se uma startup tem condições de fazer isso, imagine se várias outras pudessem fazer a mesma coisa. Tem muita gente sedenta por uma chance".

Colocando o pé fora da bolha

A chama do impacto social em Paulo ganhou força em 2018, quando participou do Alumni Summit, encontro anual que reúne os fundadores das startups participantes dos programas do Google for Startups, que ocorreu em Israel.

Durante dois dias, ele participou de conversas e troca de experiências, e teve a chance de fazer uma viagem de mentoria para a Palestina e conhecer a realidade local. Para Paulo, esse foi o momento mais impactante da viagem, por poder observar como agem trabalhadores de um ecossistema tão limitado em termos de recursos e politicamente turbulento.

A motivação, dedicação e atitude positiva vista na região, o fez voltar com a intenção de retribuir as vivências que teve no Campus e ajudar a desenvolver ainda mais o  ecossistema local. "A gente vive em uma bolha de tecnologia muito grande e por isso não temos noção do impacto que podemos causar com pouco. Qualquer startup que começa tem um poder de transformação muito grande dentro do ecossistema em que está inserida", explica Paulo.

Depois de três anos do programa, as projeções são para um 2020 de grande crescimento para o Trakto. A expectativa é dobrar o número de funcionários e atingir um faturamento anual de 4 milhões de reais, com a nova versão da plataforma, que chegará ao mercado por um preço quase 50% menor que o atual, além de continuar instigando o ecossistema local. "Assim que a gente escalar nossas vendas e estivermos um pouco mais folgados financeiramente, queremos ter um projeto de treinamento de meninos e meninas em programação. Uma espécie de programa de Desenvolvedores Jr. para a região nordeste".

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