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As perspectivas dos especialistas sobre os programas de aceleração

Em um ano em que se reinventar foi a regra, a adaptação total dos programas de aceleração do Google for Startups – que passaram de um modelo pautado em reuniões presenciais para um formato 100% online – trouxe uma grande vantagem: a oportunidade de conectar as startups da rede com mais de 205 mentores de mais de dez países, como Austrália, Índia e Israel. Especialistas do Google for Startups e da rede parceira de diferentes áreas ofereceram suporte customizado a mais de 88 startups e também se desenvolveram ao longo dos programas, em um processo em que compartilharam e adquiriram conhecimento simultaneamente.

Para entender melhor a experiência dos mentores durante a participação nas nove turmas dos diferentes programas de aceleração que aconteceram em 2020, conversamos com alguns especialistas sobre as mentorias e de que forma o processo agregou valor para as trajetórias pessoal e profissional do mentor. Além disso, cada um escolheu uma startup e compartilhou os conselhos feitos aos empreendedores – sejam relacionados ao desenvolvimento de tecnologia, do negócio, na gestão de pessoas ou aperfeiçoamento da liderança.

Ser mentor é uma oportunidade de retornar à comunidade os aprendizados que tive no Google.

O especialista em Marketing e Growth do Google definiu o processo de mentoria como "enriquecedor" e reconhece que a experiência trouxe uma ótima oportunidade de crescimento profissional e como indivíduo. "Ser mentor representou uma oportunidade de retornar à comunidade alguns dos aprendizados que tive ao longo da minha carreira dentro do Google. Em um processo de muito ensinamento e empatia, tentei ouvir ao máximo, imergir nos desafios das startups que trabalhei junto para entender como ajudá-los de acordo com o estágio de desenvolvimento de cada uma", relata.

Yokota contou mais sobre as estratégias que desenvolveu junto à Vittude, focadas no uso de Machine Learning para garantir mais rentabilidade em campanhas, inclusive no YouTube. "Além disso, durante a mentoria, três pessoas se juntaram ao time. Além da evolução em sinergia e priorização de objetivos de negócios concretos, a equipe aumentou para dar vazão às demandas que foram surgindo ao longo do processo", complementa o mentor.

Uma ideia vira projeto com trabalho, estudos e testes de desenvolvimento. O superficial não leva ao sucesso.

Assim como Lucas, a analista e desenvolvedora de sistemas escolheu a palavra "enriquecedora" para resumir a sua experiência como mentora da rede do Google for Startups. Aos empreendedores, a especialista recomenda que conheçam a fundo as tecnologias que irão usar no dia a dia de trabalho."Uma ideia só será efetiva e vira um projeto com muito trabalho, estudos e testes de quem irá desenvolvê-lo. Nada superficial levará ao sucesso", comenta.

Recomendo que todos sejam mentores para sair da zona de conforto e operar de uma forma diferente da que estamos acostumados.

O Product Manager do Google acredita que a oportunidade de trabalhar junto às startups trará um impacto positivo na sua carreira, inclusive pela oportunidade de conhecer a cultura empreendedora brasileira. "Quando pensamos em empreendedores, de onde vêm e o que estão fazendo para promover mudanças significativas no mercado, não pensamos só no Vale do Silício, mas no mundo todo. Para mim, é muito inspirador ver de perto as mudanças que o Brasil está conduzindo. Recomendo a todos os Googlers que sejam mentores. Foi incrível sair da zona de conforto e operar em um ritmo diferente e com uma estrutura muito mais enxuta do que estamos acostumados", relata.

Rivas falou sobre a experiência com a Linkana, que oferece solução de homologação de fornecedores, e como ajudou a startup a dar um "passo atrás" e resolver problemas primários que estavam afetando diretamente o engajamento dos usuários na plataforma. "É comum no ambiente empreendedor focar em soluções quando você tem apenas uma hipótese sobre o problema, mas não dedicou tempo suficiente tentando entendê-lo e por onde começar a resolvê-lo. Por isso, demos um passo atrás para identificar, de fato, o que estava impactando no baixo uso da plataforma e como endereçar o problema", reforça o Googler.

Acompanhei fundadores trabalhando para tirar ideias do papel com sucesso e isso fez diferença na minha carreira.

Yorgos é especialista em vendas e User Experience (UX) e a experiência incrível, como o próprio mentor definiu, revelou a cultura resiliente brasileira que ainda não conhecia. Ele acredita que o maior impacto na sua carreira será aplicar o que aprendeu junto às startups no seu dia a dia no Google.

"Os brasileiros são super apaixonados pelo que fazem, divertidos de trabalhar junto e muito amigáveis. Acompanhei os fundadores trabalhando duro para tirarem as suas ideias do papel com sucesso, de forma resiliente e, de fato, as mentorias e o contato com esta cultura fizeram diferença na minha carreira", finaliza.

Yorgos trabalhou junto à Creators e os ajudou a definir de forma mais clara o modelo de negócios da startup, reforçando a importância de manter o foco nos principais KPIs da empresa ao longo do seu processo de desenvolvimento e nos pontos fortes da sua plataforma versus o que é oferecido pelos concorrentes.

Foi uma experiência fascinante, especialmente tendo contato com decisões sendo tomadas rapidamente.

Para a especialista em UX, atuar como mentora da rede do Google for Startups trouxe uma nova perspectiva sobre os projetos de melhoria da experiência e o primeiro contato com a cultura ágil das pequenas empresas durante o processo de mentoria deixou a Googler fascinada. Como consultora e especialista em UX, Anna tem vasta experiência com empresas de grande porte, que têm um outro ritmo de implementação e acompanhamento dos projetos. "As startups conseguem concretizá-los em uma velocidade totalmente diferente do que eu estava acostumada a ver. Foi realmente fascinante a experiência e, além de ampliar o meu portfólio, tive contato com tomadas de decisão que acontecem de forma rápida, algo que eu não estou acostumada no dia a dia", explica.

Anna trabalhou junto à ChatClass especificamente para melhorar a experiência do usuário no website da startup e o quanto os usuários conseguem compreender o que a edtech está oferecendo para Pessoas Físicas e Jurídicas – sendo que não estava habituada a trabalhar com empresas focadas em educação. "Tive que entender a fundo o produto da ChatClass e como torná-lo ainda mais atraente, em uma área que ainda não dominava. Foi muito gratificante acompanhar a evolução da ChatClass e os projetos de UX da startup", complementa.

Ouvir como startups trabalham sem necessariamente terem um suporte robusto por trás me trouxe uma nova perspectiva de UX.

Wendy também é especialista em User Experience e o seu maior aprendizado da mentoria foi aprender a ouvir e extrair ao máximo o conhecimento sobre os desafios que as startups enfrentam. "O que a startup encara eu não encontro no meu dia a dia. Não estou acostumada a atuar sem uma estrutura de negócios completa. Por isso, ouvir e entender como as startups atingem seus objetivos sem, necessariamente, um suporte robusto por trás, me trouxe uma nova perspectiva de atuação e resolução de problemas de UX", conta.

A Googler trabalhou junto à Hrestart e enalteceu a capacidade de resiliência e de permanecer positivo e à procura da melhor solução mesmo frente às piores experiências. Wendy propôs à startup a se concentrar em sua estratégia de vendas para o mercado. As sessões de mentoria envolveram melhoria no discurso de negócios e revisitação da missão e propósito da marca, pensando nos objetivos que desejam atingir futuramente.

A mentoria é uma troca e descobrimos juntos o que faz mais sentido para cada startup.

A Googler e mentora de Google Analytics deu destaque ao entusiasmo e capacidade de dialogar durantes as mentorias, essenciais para a evolução do projeto. “As startups estão abertas a construir soluções juntos. O processo de mentoria foi uma troca, em que estávamos descobrindo juntos o que fazia mais sentido para cada startup e as especificidades de cada setor de atuação”, complementa Mariana.

A especialista falou sobre a experiência com a Vittude e o trabalho para utilizarem conceitos e soluções do Google Analytics em sua máxima capacidade, além de estratégias de uso do App Analytics. Foram feitas sessões sobre estratégias focada em usuários, construção e otimização do tfunil de conversão, integração de dados, modelos de atribuição, entre outros assuntos.

Com a mentoria, a healthtech implementou uma nova solução do Google Analytics para identificar se o usuário é cliente ou não assim que ele entra no site da Vittude. "Com base nisso, é possível chegar no cálculo de CAC (custo de aquisição) baseado na transação efetivamente, e não apenas na visita/cadastro no site”, complementa a Googler.

Indo além da estratégia de negócios

Como pesquisador, já errei muito e ganhei resiliência para lidar com contratempos e ajudar pessoas.

Um dos principais desafios citados por grande parte dos mentores – em especial os que não estão no Brasil – foi trabalhar temas tão complexos de forma remota e no cenário de incertezas que a pandemia da COVID-19 trouxe. A tecnologia aproximou os fundadores de startups de especialistas do mundo todo, mas as incertezas e inseguranças acompanharam a necessidade de uma energia extra para fazer os negócios crescerem.

Os conselhos do Engenheiro de Software do Google e empreendedor, David Yu Chen, foram feitos para líder de uma startup: estar ciente da sobrecarga emocional que acompanha o fundador durante toda a sua trajetória. Por isso, escreveu um artigo no qual divide lições sobre saúde mental e que resume alguns dos conselhos que abordou durante as sessões de mentoria, indo além do seu conhecimento técnico. "Como pesquisador de longa data, tive a oportunidade de trabalhar em diversos ambientes do ecossistema de startups. Cometi muitos erros e, no fim, ganhei resiliência para lidar com contratempos e também ampliei minha capacidade de apoiar outras pessoas", compartilha.

Lembre-se, quando se preocupar só com a tecnologia: a tecnologia é um meio de ajudar alguém.

Já a Mestre em Engenharia de Computação, Danielle Monteiro, que trabalhou junto a diversas startups da rede do Google for Startups, principalmente durante o Accelerator, escolheu um conselho de caráter prático, mas que também se relaciona diretamente à capacidade de resiliência e paciência dos líderes de startups. Para ela, cada uma precisa entender as necessidades e objetivos do negócio antes de escolher qual caminho seguir e qual tecnologia utilizar. "Muitos deles estavam dispostos a fazer mudanças desnecessárias, sem levar em consideração as particularidades e boas práticas de cada ferramenta", conta.

Danielle listou quatro conselhos para quem empreende no Brasil – os mesmos compartilhados com as startups ao longo da aceleração:

  • Tecnologia é um meio de ajudar alguém, lembre-se disso quando tender a valorizar mais a tecnologia e menos as pessoas;

  • Diversidade é indispensável para a criação de produtos incríveis.

  • Produção é diferente de MVP (em português, Produto Viável Mínimo, ou seja, versão mais simples de um produto que pode ser lançada com uma quantidade mínima de esforço e desenvolvimento);

  • Inove com responsabilidade.