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História da startup

Black Founders Fund: de mãos dadas vamos mais longe

Escrito por: André Barrence, Diretor do Google for Startups para a América Latina
Fundadores de algumas das startups que já foram investidas pelo Black Founders Fund

Quando penso em formas de explicar o que é o empreendedorismo, o modo mais simples que encontro é compará-lo a uma longa jornada, que apesar de árdua, pode se tornar muito prazerosa se percorrida de mãos dadas com outras pessoas.

Ao longo da minha jornada, conheci diversos empreendedores que se destacaram pela sua tenacidade, principalmente aqueles que fazem parte de um ou mais grupos politicamente minorizados. São tantos os desafios sociais que precisam ser enfrentados, dores essas que se replicam em diversos setores da sociedade, inclusive no ecossistema de inovação.

Somente no Google for Startups tive contato com mais de 300 negócios que carregavam consigo um potencial gigantesco. Dentre esses, 33 passaram pelo Black Founders Fund, a nossa iniciativa, sem participação societária, que investe em startups fundadas ou lideradas por pessoas negras. Apesar de fazerem parte da mesma comunidade, as dores e os desafios que os afroempreendedores, em especial, enfrentam são muito notáveis.

Um desafio já comentado por nós e que, talvez seja um dos piores vilões dos empreendedores negros, é a captação de crédito e investimentos.

Dos muitos homens e mulheres pretas que acompanhamos, vários possuem uma trajetória notável com números muito expressivos em termos de potencial e maturidade do produto, no entanto, muitos deles receberam sequer um primeiro investimento. Esse quadro, muito provavelmente, seria diferente caso não pertencessem a um grupo politicamente minorizado.

Convivendo com essa e outras dores, torna-se improvável não se movimentar para provocar mudanças positivas no ecossistema. Essa inquietude, somada ao propósito do Google for Startups de promover a diversidade, inclusão e equidade, é o que nos impulsiona a continuar trilhando a nossa nossa jornada, de mãos dadas com cada fundador, líder, investidor e qualquer outro perfil atuante que deseja contemplar um ecossistema saudável.

Talvez seja por termos tão claro em nossa mente a missão de contribuir com a construção de um ecossistema mais igualitário e diverso que o Black Founders Fund se tornou uma das iniciativas mais importantes para mim e para a empresa como um todo. Desde 2020, quando essa ação nasceu, nós já investimos em 33 startups fundadas e lideradas por pessoas negras, e elas já conseguiram levantar mais de R$43 milhões em rodadas adicionais de investimento. E essa missão está longe do fim.

Por isso, no início deste mês da Consciência Negra apresentamos 10 novas startups que chegaram para fazer parte da comunidade do Google for Startups Brasil por meio do fundo.

Um raio-x das selecionadas

Fundada em 2016 por Ana Cabral, a paulista Baruk é uma das startups selecionadas que utilizam Inteligência Artificial em soluções de software para negócios. Ela se enquadra simultaneamente nas - infelizmente ainda baixas - porcentagens de 5,5% e 5,4% referente a empresas de I.A. no Brasil que, de acordo com a pesquisa “O impacto e o futuro da Inteligência Artificial (I.A.) no Brasil”, contam com um fundador que seja uma mulher ou uma pessoa negra, respectivamente.

A Baruk é conterrânea da Uppo, fundada há dois anos por Vanessa Poskus. Também voltada para empresas, a startup de tecnologia é especializada na criação e gestão de clubes de benefícios e ajuda empresas no engajamento e na fidelização de seus públicos estratégicos.

Thais Ramos, líder da startup curitibana De Benguela, veio para completar o time de fundadoras do grupo com seu olhar totalmente voltado para o consumidor final. Sendo a primeira mulher negra a se formar em Direito na Universidad de Alcalá, na Espanha, Thais criou a primeira loja do Brasil especializada em diferentes texturas de cabelo crespo natural para alongamentos e apliques.

Assim como a De Benguela, outras duas startups estão no Sul do país: a catarinense Erah, negócio de inteligência comercial especialista na geração de leads para a indústria de software e tecnologia, liderada por Maike Marques, e a gaúcha de Inteligência Artificial Ubots, uma das 100 Startups to Watch de 2022, fundada por Rafael Souza, especializada em soluções de relacionamento e atendimento ao cliente por meio de uma plataforma própria.

Do gaúcho ao sertanejo, a startup Trampay também se encontra fora do Sudeste brasileiro que abriga tantos negócios. Localizada no Distrito Federal e liderada por Thiago Ribeiro e Jorge Junior, a fintech de impacto social funciona como uma plataforma de benefícios para o trabalhador, no modelo B2B2C.

E por falar em impacto social, a logtech naPorta, liderada por Sanderson Pajeu, é um dos negócios dirigidos pelo propósito comunitário. A startup viabiliza as entregas das compras online feitas por moradores de comunidades e regiões com restrição, em que muitas das empresas de logística geralmente não fazem entregas.

Na lista de startups que desenvolvem soluções voltadas para empresas, a fim de auxiliar ou facilitar processos e análises, encontramos a aplicadora de I.A. HartB, que é especialista em Big Data, análise e cruzamento de dados; a Damch, desenvolvedora de soluções que auxiliam empresas a crescerem, otimizarem ações e mitigarem riscos para redução de custo, e a Easy B2B, uma startup de varejo digital destinada a facilitar o processo de compra e vendas entre empresas.

Com a apresentação dessas novas startups, o total de empresas selecionadas para o Black Founders Fund chega a 43. Juntas, elas já receberam parte dos R$13,5 milhões do fundo, que soma o aporte inicial de R$5 milhões e o novo recurso de R$8,5 milhões anunciado ainda no início de 2022.

Uma missão distante do fim

Sabemos que ampliar a representatividade racial e outros grupos politicamente minorizados é um papel fundamental do nosso ecossistema para a construção de uma sociedade mais igualitária e diversa. Esse pensamento também se adequa à comunidade de inovação brasileira. Por isso, seguimos com inscrições abertas para o Black Founders Fund, investindo em startups fundadas e lideradas por pessoas negras, sem qualquer participação societária. O que também nos impulsiona a continuar são as recorrentes histórias de sucesso de afroempreendedores que compõem a nossa comunidade, como as dos depoimentos abaixo:

Apoio à reinvenção

Saiba mais sobre a história da Yoobe.

Ampliando oportunidades

Um apoio contínuo

Seja através das conexões, relacionamento ou até mesmo de investimentos, seguimos mais comprometidos do que nunca no objetivo de colaborar para ampliar a diversidade entre as startups brasileiras e para a criação de uma comunidade única dentro do ecossistema de inovação. A jornada ainda é longa, mas seguiremos firmes, buscando sempre entender as dores e expectativas dos empreendedores do país e da América Latina. Sabemos que não vamos solucionar nada sozinhos, mas tenho certeza que vamos nos orgulhar do resultado final que nossos esforços contínuos trarão a longo prazo.